Inflação sob controle, perspectiva de novos cortes na Selic e aumento da concorrência entre bancos levaram o juro médio dos empréstimos para a compra da casa própria em junho para 7,73% ao ano
“Se o Banco Central confirmar a expectativa atual de baixar ainda mais a Selic, é natural que haja adequação das taxas de juros do financiamento”, avalia o economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Celso Petrucci. O setor estima que a redução de cada ponto porcentual nos juros básicos represente um desconto de 7% a 8% na parcela do financiamento, o que significa que ela passa a caber no bolso de mais consumidores. “Em São Paulo, são vendidos de 25 mil a 30 mil imóveis novos por ano. Em alguns anos, esse patamar poderia subir para 40 mil”, estima o analista de mercado imobiliário do banco BTG Pactual, Gustavo Cambauva. Também está no horizonte o novo modelo de crédito para a casa própria, que substitui a Taxa Referencial (TR), hoje zerada, pela inflação corrigida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 3,22% nos últimos 12 meses até julho. O modelo deve entrar em vigor nos próximos dias, segundo o presidente da Caixa, e a expectativa do setor é que a mudança abra espaço para juros menores. O copresidente da MRV Engenharia, Rafael Menin, diz acreditar que o mercado nacional poderia até dobrar de tamanho em dez anos, caso haja redução dos juros do financiamento associada ao crescimento sustentável do Produto Interno Bruto (PIB) e à estabilidade política.
Crise lá fora
Apesar do cenário positivo para o setor, a perspectiva de uma nova crise econômica internacional, que se desenha no horizonte, poderia fazer com que o Brasil voltasse a subir a taxa Selic e, por consequência, a taxa cobrada no financiamento imobiliário aumentasse. A crise internacional entrou no radar nos últimos dias, após uma sinalização de juros de longo prazo mais baixos nos Estados Unidos, o agravamento da guerra comercial entre americanos e chineses e a previsão de menor crescimento mundial. O diretor de Economia da Anefac (associação que reúne executivos de finanças), Roberto Vertamatti, estima que se o cenário de crise internacional se confirmar, ela pode se refletir no Brasil, levando a uma desvalorização do real ante o dólar e a uma resposta do Banco Central no aumento dos juros. Ele avalia que uma nova crise poderia ser particularmente ruim para o Brasil, em um momento em que o País começa a dar os primeiros sinais de recuperação. “A crise internacional poderia comprometer os resultados do PIB de 2020 e 2021.”
Já o coordenador do MBA de gestão financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, pondera que, embora possa haver mudança no cenário internacional, isso não deve ocorrer em menos de um ano.