Boom de bitcoins chega ao mercado imobiliário da Flórida

 

No fim do ano, o bitcoin aparecia como forma de pagamento em cerca de 75 propriedades nos Estados Unidos, particularmente no sul da Flórida e na Califórnia. A febre do bitcoin contagiou o mercado imobiliário americano, sobretudo na Flórida, oferecendo a investidores estrangeiros uma forma de escapar do controle cambial de seus países e das sanções econômicas dos Estados Unidos.

“Aceita-se bitcoins” é uma mensagem que começa a aparecer na descrição de imóveis na região de Miami. Um vendedor chega a aceitar apenas a moeda digital – 33, especificamente – por seu apartamento de 500 mil dólares no centro da cidade.

A criptomoeda é uma montanha russa: após disparar a quase 20 mil dólares a unidade em meados de dezembro e cair antes do Natal, começou o ano em torno dos 14 mil dólares.

O uso de bitcoin no mercado imobiliário ainda engatinha, e agente imobiliários são céticos devido a sua volatilidade.

“Me surpreenderia muito se, daqui a um ano, houver centenas de transações em bitcoins”, comentou Jay Parker, CEO do braço da Flórida da agência Douglas Elliman.

No entanto, essas transações podem ser uma salvaguarda para os estrangeiros que querem investir nos Estados Unidos e não podem fazê-lo, disse o economista e especialista em bitcoins, Charles Evans, da unidade Barry na Flórida.

A tendência no setor imobiliário “parece ser direcionada por investidores internacionais que estão evitando sistemas bancários e controles cambiais em casa”, explicou à AFP.

Ele disse que, quando os governos restringem a quantidade de dinheiro que seus residentes podem transferir ao exterior, “o bitcoin permite que os indivíduos contornar essas restrições”.

Isso é algo que pode atrair investidores que já se interessavam pelo mercado imobiliário do sul da Flórida.

Cerca de metade dos compradores estrangeiros de bens imobiliários no sul da Flórida vêm da América Latina. Segundo a Associação Nacional de Imóveis, nos últimos cinco anos os investidores de Venezuela, Brasil e Argentina, nesta ordem, lideraram as compras na região.

O bitcoin oferece outra vantagem para alguns desses investidores estrangeiros: permite evitar sanções financeiras impostas por Washington.

Evans deu o exemplo da Venezuela, que vive um controle estrito de câmbio e teve inflação de 2.616% em 2017, além de quase todos os funcionários do governo de Nicolás Maduro terem sido alvo de sanções econômicas por Washington.

Além disso, acrescentou o especialista, “também há muito interesse no bitcoin entre iranianos, que sofrem um golpe duplo: restrições no Irã e sanções internacionais”.

– Lavagem de dinheiro? –

A lavagem de dinheiro é um segredo aberto que impulsiona o mercado imobiliário no sul da Flórida, mas o bitcoin não ajudará a proteger essa prática ilegal. Muito pelo contrário, acreditam especialistas.

“É um método terrível para lavagem de dinheiro em grande escala, porque todas as transações bitcoin são registradas e disponíveis ao público no registro de transações conhecido como blockchain”, disse Evans.

Embora o bitcoin tenha sido associado a atividades criminosas como tráfico de drogas e ataques cibernéticos, a verdade é que blockchain “deixa muitos vestígios”, disse o representante da Flórida no Congresso, José Felix Diaz.

“Então, se você usá-lo com motivações ilegítimas, o governo tem todas as ferramentas para ir atrás de você”, disse Díaz à revista Político.

Diaz impulsionou um projeto de lei, aprovado no ano passado, que acrescenta moedas virtuais aos itens que estão incluídos na lei de lavagem de dinheiro da Flórida.

O agente imobiliário Jay Parker compartilha desta opinião. A lavagem de dinheiro através de bitcoins não é um risco porque “os proprietários do imóvel sempre podem ser rastreados”.

Fonte: www.istoedinheiro.com.br