Governo do Paraná e Rússia assinarão acordo para fabricação da vacina Sputnik V

O governo do Paraná assinará um convênio com a Rússia para produzir a vacina Sputnik V, a primeira registrada contra o novo coronavírus. A informação foi confirmada pela CNN.

A possibilidade de uma parceria do estado brasileiro com a Rússia sobre a vacina contra Covid-19 foi tratada no fim de julho, durante reunião, em Brasília. O acordo deve ser assinado nesta semana ou no início da próxima, afirmou o presidente do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Jorge Callado.
“Um momento de expectativa, de tratativas iniciais, que devem ser pautadas pela prudência, segurança, transferência de tecnologia. Não podemos, obviamente, queimar etapas. Este é um momento que estamos nos preparando. O governo do Paraná nesta semana, ou possivelmente no começo da outra, assinará esse protocolo de intenções com o governo da Rússia para que as tratativas técnicas oficiais possam ter início.”

Sobre as incertezas em relação à vacina russa, cujos dados dos estudos clínicos ainda não foram tornados públicos por Moscou, Callado afirmou que após a oficialização de termo com o governo russo o Tecpar pedirá acesso a esses resultados.
“Obviamente, para que essa vacina chegue ao Brasil, é necessário ter aprovação do Comitê Nacional de Ética em Pesquisa e da Anvisa. São pontos bem cautelosos, que não acontecem de uma hora para a outra.”

Ele disse ainda que depois da análise desses resultados o instituto poderá replicar a fase 3 de testes clínicos com o medicamento russo aqui no país ou, em caso de dados positivos, solicitar um “registro clone” dessa vacina para o Brasil.

“Vacina, como todos sabemos, é um processo muito técnico, envolve muito tempo em termos de pesquisa e em termos de produção também”, disse.

Questionado sobre uma estimativa de quando os primeiros brasileiros poderim ser imunizados, o presidente do Tecpar afirmou que é importante ser cauteloso e, até, conservador nessa questão.
“Colocando um cenário muito positivo, em que testes sejam realizados com toda segurança e demonstrem resultados satisfatórios, não podemos falar nada antes do segundo semestre de 2021”, disse.

“A menos que ocorram informações muito positivas, que ocorram ações acima das expectativas e esse prazo possa ser um pouco encurtado. Mas, em princípio, o mais correto, o mais responsável, é não fazer previsão antes do segundo semestre de 2021.”

O Tecpar tem parceria com a Fiocruz e com o Instituto de Biologia Molecular do Paraná, que hoje produzem testes para o diagnóstico de Covid-19.

O governo do Paraná negocia também com o laboratório chinês Sinopharm parceria para testagem e produção de outra vacina contra o novo coronavírus. As ações também ficarão sob responsabilidade do Tecpar.

Produção nacional

A possibilidade de a vacina russa ser produzida no Brasil, caso obtenha aprovação dos órgãos regulatórios, também foi confirmada por Kirill Dmitriev, CEO do Fundo de Investimentos Diretos da Rússia (RDIF), o fundo soberano do país, que financia o desenvolvimento da vacina pelo Instituto Gamaleya.

Ele informou que a fase 3 dos testes vai começar nesta quarta-feira (12), e espera que a substância seja produzida no Brasil (sem revelar maior detalhes). “A produção na América Latina vai começar em novembro, sujeita à aprovação regulatória.”
“Juntos aos nossos parceiros estrangeiros, estamos prontos para fabricar mais de 500 milhões de doses da vacina por ano em cinco países, e o plano é aumentar ainda mais a capacidade de produção.”

O governador de São Paulo, João Doria, descartou que a vacina russa seja produzida no estado.

Dmitriev disse ainda que a vacina, batizada de Sputnik V, uma referência ao lançamento do primeiro satélite do mundo, em 1957 pela então União Soviética, é “incrivelmente segura”. “Testei em mim mesmo e não vimos efeitos colaterais significativos”, afirmou.

Análise da Anvisa

Em nota, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que não recebeu até o momento nenhum pedido de autorização de protocolo de pesquisa ou registro da vacina russa. Ainda segundo a Agência, não é possível fazer afirmações sobre o tempo necessário para aprovação antes da solicitação formal. Além disso, a Anvisa destaca que a avaliação “tem foco na segurança e eficácia que são os requisitos fundamentais” e que uma vacina precisa seguir quatro etapas: desenvolvimento exploratório; pesquisa pré-clínica; pesquisa clínica (uso em humanos) e registro.

O registro da vacina

O Ministério da Saúde da Rússia concedeu a aprovação regulatória para a vacina nesta terça, após menos de dois meses de testes em humanos. O anúncio foi feito pelo presidente do país, Vladimir Putin.

Falando ao vivo por teleconferência com os ministros do seu gabinete, Putin disse que a substância passou por todos os controles necessários, e espera que a Rússia comece em breve a produção em massa da vacina.
“Uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada pela primeira vez no mundo nesta manhã”, afirmou Putin. “Eu sei que ela funciona de maneira bastante eficaz, formando uma imunidade estável”, continuou. “Somos os primeiros a registrá-la. Espero que o trabalho dos nossos colegas estrangeiros também se desenvolva, e muitos produtos vão aparecer no mercado internacional.”

O líder russo destacou ainda que uma de suas filhas já foi vacinada. Ela chegou a apresentar temperatura levemente elevada, mas agora se sente melhor, informou o mandatário.

“Depois da primeira injeção, a temperatura dela foi a 38ºC. No dia seguinte, em torno de 37ºC. Após a segunda injeção, a temperatura ficou um pouco mais alta, mas foi isso, depois voltou ao normal. Agora ela se sente bem.”

(Com informações de Iara Maggioni, da CNN, em Curitiba, da CNN e da Reuters)

Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/08/11/governo-do-parana-e-russia-assinarao-acordo-para-fabricacao-de-vacina-sputnik-v